segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

E, que tal uma fé desinteressada?

Uma fé verdadeira e desinteressada seria muito útil nesses dias de “toma lá dá cá”. Crer, não pela promessa de um dia vindouro, mas pela vida da qual já se desfruta, agora. O dom de viver pertence a qualquer um que nasceu, concedido pelo Criador que nada pediu em troca. Esse é um motivo suficiente para crer, para ser e fazer o melhor da própria vida.

Mas não é esse o tipo de motivação explorada pela educação. O hábito de se oferecer uma recompensa, a quem cumpre com suas obrigações, começa em casa, quando os pais premiam ou castigam para estimular comportamentos desejados. Poderíamos, desde cedo, ser conduzidos a perceber que nossos melhores desafios e recompensas são conquistados em nosso íntimo, quando vencemos a nossas próprias limitações.

Nos dias presentes, muitos escolheram atribuir a forças externas todo o poder de realização que deveriam cultivar em si. Afirmam conseguir emprego, boa saúde, passar em vestibular e em concursos, manter os filhos a salvo das drogas, de gravidez precoce, etc, tudo por “intervenção divina”. E a divindade lhes concede todas as benesses por freqüentarem e trabalharem para essa ou aquela igreja, de preferência sem descuidar dos dízimos. Se, de repente, se afastam...Cuidado, a vida pode degringolar. Então, para esse grupo cada vez mais numeroso de pessoas, há muito pouco o que se fazer “aqui fora” ou, melhor dizendo, dentro de si mesmos.

Quando buscamos em nós, somos mais compassivos porque passamos a enxergar melhor nossas próprias fraquezas. Os fiéis das "igrejas", induzidos a crer que fazem jus à prosperidade e que estão a salvo por estarem em certos templos, tendem a repudiar os que professem outra fé: caminham, exatamente, na contra-mão dos princípios cristãos e por vezes, com extrema crueldade, atribuem a desgraça alheia à prática de outros credos. “Se a vossa justiça não ultrapassar a dos fariseus, não entrareis no reino dos céus”, eis a simplicidade dessa sentença, em que Jesus informa que a verdadeira justiça é a misericórdia.

As novas igrejas fazem tudo parecer muito fácil, basta dar o dízimo, freqüentar reuniões, entoar cânticos de feições cada dia mais profana: é o funk de Jesus, é o axé do Senhor... músicas melosas semelhantes às baladas românticas que se escuta em qualquer parada de sucessos. Fazem um triste e ridículo arremedo das diversões que, aqui fora, atraem os jovens; organizam grupos com diferentes níveis de poder, em que se pode ascender a hierarquias mais elevadas levando a competição, a intriga e a inveja para o seio das igrejas!

Os jovens atraídos precisariam, antes de qualquer coisa, melhorar seu nível educacional para entender o real sentido de justiça, de misericórdia, de tolerância... E veriam, de imediato, que nada é tão fácil, que tudo custa um enorme esforço individual e que, mais do que se sacudir cantando o funk do Senhor, o necessário é estudar muito, ler bons livros, ouvir boa música... Sem se submeter ao crivo desta ou dela igreja que pretende, na verdade, dominar e manipular para ter o controle de uma multidão, cada vez mais numerosa, de pessoas crédulas que atribuem o próprio sucesso ou fracasso a causas externas, que se sentem prisioneiras e que receiam afastar-se e perder o que acreditam haver conquistado por intervenção da igreja.

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