quinta-feira, 29 de junho de 2006

O FUNDAMENTALISMO DO CORPO

A matéria de capa da revista VEJA desta semana, “O real Poder do Cérebro Sobre a Saúde”, apesar do que denota o título, revela o quanto ainda estamos distantes de contemplar a realidade sobre nós mesmos.

Segundo a reportagem, seria um erro atribuir todos os males a origens não físicas. E cita Susan Sontag, a escritora que, vítima de câncer e inconformada com a teoria que, de certa forma, transfere para o paciente a responsabilidade pela doença, dedicou-se a pesquisar o assunto. Como fruto da pesquisa publicou o livro “A Doença como Metáfora” em que denuncia o “fundamentalismo psicológico”

Efetivamente, qualquer fundamentalismo representará sempre um perigo para a saúde. É fácil imaginar pessoas “doentes” de mesquinhez erguendo o dedo acusador para o semelhante, apontando-lhes as falhas de caráter refletidas em seu corpo físico como doenças diversas. Faz lembrar passagem bíblica em que Jesus é interrogado sobre um doente que buscava a cura: "Quem pecou, foi ele ou seus pais?"

Esse fundamentalismo, inclusive, se avizinharia do uso que se tentou fazer da Fisiognomia, ramo de conhecimento que pretende decifrar o caráter das pessoas a partir dos traços fisionômicos e que muito serviu aos propósitos do Nazismo; e que poderá ser útil a qualquer corrente que busque estigmatizar categorias de seres humanos.

Mas o fato é, que tanto a medicina tradicional chinesa como a indiana, buscam os caracteres físicos para, também, agrupar pessoas segundo categorias. Mas não para estigmatizar e sim para melhor tratar, segundo as peculiaridades emocionais de cada grupo.

Então, concordar com a visão proposta pela referida reportagem, que na verdade, retrata o conflito entre a Medicina e a Psicologia, seria um equívoco, seria aceitar o FUNDAMENTALISMO DO CORPO.

O cérebro seria, então, o todo poderoso? Acredito que o poder esteja, de fato, muito além do cérebro físico.

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