quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Julian Assange

Julian Assange ousou desafiar os poderes estabelecidos publicando segredos muito bem guardados, vazando documentos sobre crimes de guerra que teriam sido cometidos pelo exército americano, no Afeganistão e no Iraque. Assange, criador do WikiLeaks, site que publica, anonimamente, informações confidenciais vazadas de governos e de empresas, está em prisão domiciliar, na Inglaterra.

Os podres estão expostos e quem os guardava faz o que os donos do mundo, em todos os tempos, sempre fizeram aos rebeldes: persegue.

Leio rapidamente essas notícias e penso no que li, há duas décadas, em um livro chamado "Sociedade sem Escolas", do pensador Ivan Illich, um outro radical. Illich falava da dependência subserviente do cidadão  às instituições (principalmente à escola) que, gradativamente, subtraíram de nós a nossa capacidade de subsistir por meios próprios, de pensar com mínima autonomia, de expressar a própria criatividade, de ousar seja lá o que for. E ai dos que ousam! Se estão em situação de trabalho, logo são sabotados, sofrem assédio, são desacreditados pelos medíocres, sob os olhos dos donos e de gerentes que, um dia, certamente, foram ousados.

Illich foi um visionário que enxergou algo bastante óbvio, como é próprio dos visionários. Enxergou o que é conhecido dos Psicólogos: a educação institucional, com seus esquemas de "certo x errado" limita e cerceia a criatividade. Com efeito, a escola pode ser intimidadora, pode aniquilar, além da auto-estima, a capacidade crítica e a própria capacidade de aprender uma vez que, vigorando a crença de que somente a escola proporciona o aprendizado, as pessoas não são estimuladas a buscar o auto-aprendizado. 

E, agora, que Assange ataca duramente institituições poderosas usando um veículo que, por incrível que pareça, foi pensado por Illich (uma rede e tecnologia), quem sabe essa discussão, do início dos meados do século passado, venha a ser retomada.

Illich pregava a criação de redes de aprendizagem apoiadas em tecnologias avançadas o que, nos dias presentes, se faz corriqueiro embora coexista, ainda, com os antigos modelos de escola. Assange também não é amigo de instituições modernas que, revestidas de poder pelo cidadão, usam esse poder para acobertar práticas criminosas. Para quê segredo? A quem serve o sigilo? Quando o sigilo é necessário e com que finalidade?

Instituições muito poderosas, se sobrepondo ao interesse coletivo, servem a quem?

Um comentário:

Claudio Oliver disse...

Muito poucos percebem o Illich correta e perspicazmente como você demonstra aqui. A maioria dos bloggers brasileiros que a ele se referem, focam no Deschooling society e esquecem o cerne da obra de illich: a critica às instituições como Corruptio Optmi pessima. Existem muitos de nós retomando a vida nas mãos, e fazendo coisas práticas, criando os filhos sem instituições tutelares e à margem do mercado. na hora que desejar podemos bater mais papos sobre isso. Bom texto e boa correlação entre os personagens.