No post anterior, relembrei Ivan Illich. Esse pensador me impressionou de forma definitiva quando, ainda na Faculdade, por proposta da professora da cadeira de Metodologia Científica, fiz a leitura, resumo e comentário da sua obra mais famosa: Sociedade sem Escolas.
Não fosse a zelosa professora Maria Bueno e eu estaria, até hoje, ignorando conceitos arrojados que me ajudaram a confirmar muito do que eu já intuía e a me desvencilhar, de vez, de preconceitos e equívocos sobre a minha suposta incapacidade e sobre as capacidades de profissionais e de suas instituições. Valeu por uma terapia. Ou, quem sabe, mais que uma terapia.
Na época, eu já era mãe de quatro crianças, dois deles portadores de alergias severas. Lutando com o uso da medicação convencional para essa patologia (que, ainda hoje, é o que há: corticóides e aminofilina), eu começava a descrer da Medicina. Sempre buscando a transcendência, eu assinava uma revista chamada "Planeta" e, ali também, fui surpreendida por idéias tão arrojadas quanto as de Illich: Por que o homem é o único animal que bebe leite a vida inteira? Por que beber leite de outros animais? E eu, comigo mesma: Não deveria beber???!!!!! Trocamos o consumo da mandioca (herança indígena) pela ingestão do venenoso trigo branco... E que mal haveria , no pãozinho de cada dia, pensava eu com espanto!?
Era o início da década de 80, estávamos muito distantes das liberdades dos tempos presentes e dos avanços da Nutrição. Aliás, tudo o que se referisse ao tema alimentação estava restrito ao âmbito doméstico, portanto, alvo de menosprezo, coisas de mulher. Mas, tive a sorte de ler os artigos de um médico, Dr. Márcio Bontempo, um homem que ousava pensar, naquela revista despretensiosa, a "Planeta".
Eu me recusava a aceitar quando alguns profissionais de saúde teimavam em me fazer acreditar que o resultado de uma operação dois mais dois não era quatro. Ou seja, eu via os efeitos devastadores da aminofilina no organismo do meu filho que me dizia: mãe, eu estou triste, mãe, estou cansado... não sei porque eu estou triste, mole...
O remédio provocava depressão na criança... O Pediatra dizia que não. Eu preferi acreditar no que via e desistir da medicação.
E, enquanto meus filhos cresciam, minha experiência se consolidava: é difícil lidar com profissionais diplomados, principalmente da saúde, porque descartam o outro como ser pensante, porque negam evidências ao invés de admitir que não tem todas as respostas. Na educação, pude testemunhar a forma como respostas criativas dos meus filhos eram descartadas como erradas por variados professores, enquanto cursavam o ensino de 1º grau.
Portanto, com esse sentimento de desconforto, resultado de experiências tão negativas, conhecer o pensamento de Ivan Illich foi, para mim, libertador.
E, daí, surge o meu interesse pelo tema "saúde e educação" e a vontade de tratá-los, numa visão integrada: a saúde vem da alma e a educação é que a constrói.
Quem é o doente? É quem persegue o próximo, é quem rotula e exclui...é todo aquele que, movido pela própria rigidez e conservadorismo, ultrapassa os limites daquilo que alega estar defendendo: seja a saúde, seja a educação, a decência, a ética, a moral e os bons costumes...
A propósito, vale lembrar a postagem anterior, sobre Júlio Assange: invocar sigilo de estado para ocultar ações criminosas, ou duvidosas, não seria imoral é doentio? Quem tem esse pecado, ou doença, não poderia atirar pedras em Julian Assange. Precisa, fundamentalmente, curar-se, ou melhor, educar-se...
Tanto é verdade que a educação condiciona a saúde que, hoje, quando se busca o controle de peso, a palavra chave dos nutricionistas é reeducação. E, se alguem infarta, o cardiologista logo propõe a formação de novos hábitos ou seja: reeducação. Aos deprimidos, a ciência já recomenda a prática de atividades físicas, que estimulam a produção de dopamina e serotonina, visando a redução gradativa de medicamentos.
Fica cada vez mais claro que o uso de um arsenal de remédios e a repetição de exames sofisticados e dispendiosos, podem ser suprimidos quando as pessoas são orientadas a cuidar de si mesmas.
E a nossa suposta incapacidade, frente à pseudo-proteção das instituições, começa a ser questionada, felizmente. Até porque, o Estado já se sabe incapaz de prover cuidados para a massa sempre crescente de doentes.
A razão, portanto, sempre esteve com Illich quando defendia a autonomia do cidadadão contra a supremacia das instituições.
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