quarta-feira, 9 de maio de 2012

"Amar é faculdade, cuidar é dever."

É possível obrigar um pai a ser pai?, indaga, Eliane Brum, em sua coluna semanal da "Revista Época. "...é possível – e desejável – que um pai seja condenado por falta de afeto?

E vai mais longe, em suas considerações, a ponto de classificar como "frase de efeito" manifestação da Ministra Nancy Andrighi que, ao decidir pelo cabimento do pleito em que se cobrava  indenização por abandono afetivo, ponderou que:

"Amar é faculdade, cuidar é dever”.

Claramente não se trata de frase de efeito. Basta lembrar que há tantas coisas que fazemos a contragosto, por senso de dever, por necessidade...

Acontece, por exemplo, em relação ao trabalho: quantos de nós está em condições de escolher ganhar o pão de cada dia fazendo aquilo que gosta? E, quantas vezes, no dia após dia, aprendemos a gostar do trabalho que fazemos? Gradativamente, vamos desenvolvendo talentos e habilidades insuspeitadas, vamos nos surpreendendo e descobrindo que, afinal, aquela aversão inicial tinha por causa a nossa ignorância e falta de habilidade, era mais uma espécie de "medo do desconhecido".

Quase todos temos alguém que depende de nós...do produto do nosso trabalho. E o senso de dever precisa falar mais alto do que os desejos e preferências pessoais. Quanto a amar, é sempre uma possibilidade. "Amar se aprende amando." sentenciou o poeta Carlos Drummond de Andrade.

Eliane Brum entende que a decisão da Justiça "Talvez abra caminho também para injustiças... Uma indenização não muda sentimentos...Não obriga ninguém a passar a amar... Ao contrário, azeda uma aproximação futura..."

As injustiças, independentemente dessa decisão, estão aí...Desde sempre, filhos nascidos fora de uniões oficiais, os "bastardos", foram desprezados e humilhados. A reparação, portanto, é bem vinda, é um incentivo a responsabilidade nas relações. E, quem se sabe incapaz de amar, que não ponha filhos no mundo. Se o fizer, que assuma, ao menos, as obrigações básicas do tipo, comparecer a reuniões na escola, cumprimentar pelos sucessos e incentivar os estudos, parabenizar e presentear nos aniversários, assistir quando estiver doente...E, se não assumir, que pague por isso.

O que se nota, nesse caso e em outros que ganharam as manchetes dos jornais (filha do Pelé e filha do falecido vice-presidente José de Alencar), é um terrível preconceito contra a mulher, aquela que se deitou sem as bençãos de uma união formal, e cuja gravidez criou algum embaraço para o homem, que se torna pai a contragosto... E o preconceito, a hipocrisia, desaba sobre quem não pediu para nascer. É uma espécie de vergonha às avessas, onde o homem, pretendendo passar a imagem de correção, recusa-se a assumir o filho publicamente.

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