terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Liberdade irresponsável

Uma menina de 14 anos, após ter sido estuprada pelo padastro, foi morar com o pai que também a estuprou; e engravidou. É o que relata matéria do G1. A mãe alega não fazer ideia do que vinha acontecendo embora a filha tenha relatado à Assistente Social que sofria o abuso desde os onze anos de idade. Tudo muito chocante nessa matéria, inclusive o fato de a mãe da menor ter outros oito filhos!

Esse fato remete às questões a que me referi nas postagens anteriores: resgate de valores (resgatar o quê?), crise na família, lei da moral e dos bons costumes, violência contra as mulheres...

Há uma única explicação: desrespeito à mulher, à criança, reiterado desde datas imemoráveis... É o que revela o estudo da História. A História, inclusive a recente, mostra o costume de soldados estuprarem mulheres. Na guerra que levou à desintegração da antiga Iugoslávia (Sérvia, Kosovo, Bósnia, Croácia), houve violação sistemática com o propósito de engravidar as mulheres e promover "limpeza étnica"! Quem se interessar sobre o tema leia o ensaio de Fernanda Ribeiro de Azevedo  Crimes sexuais e as guerras.

Mas, não resta dúvida de que o progresso chegou: esses atos, hoje, são tratados como crime, em oposição ao passado recentíssimo onde a mulher, quando se dirigia a uma delegacia para prestar queixa, ouvia a seguinte piada nojenta: "Quem guiou o cego?". Foi esse tratamento agressivo que motivou a criação das Delegacias de Mulheres, na década de 80.

No entanto, na  notícia a que me refiro, no início deste texto, há um aspecto que merece relevo: a mãe da jovem violada tem outros oito filhos! Essa mãe não faz jus à liberdade de que desfruta, a duras penas conquistada pelas mulheres da minha geração. Não só não cuidou da filha de 14 anos mas colocou mais oito crianças no mundo. E, ainda ousa dizer que a filha não está traumatizada!

Nem todas as pessoas tem perfil para ser mãe, ou pai, embora a maioria seja dotada dos "equipamentos" necessários à concepção. Assim, as igrejas que fazem campanha antiaborto e anti-métodos contraconceptivos deveriam, também, se encarregar da educação dessas pessoas identificando-as na multidão e impedindo que botassem tantos inocentes no mundo, irresponsavelmente. Não basta pregar, bradar, amaldiçoar.... É preciso se comprometer. Afinal, se esses grupos se julgam, assim, tão poderosos, emissários diretos de Deus na defesa da vida, por que não a defendem, efetivamente? Por que permitem que aqueles que escaparam do aborto se tornem, no futuro, vítima da violência praticada pelos próprios pais?

Em se tratando de "moral e bons costumes", nada é o que parece, nada é tão simples; e tudo passa pela educação.  Por isso mesmo, o tema pode ser uma bandeira perigosa nas mãos de pessoas religiosas com pouca instrução e tendentes ao fanatismo. É uma discussão que não pode ser adstrita à noção de moralidade que é pregada nos púlpitos por hipócritas que atribuem os males modernos às conquistas femininas.

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