quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Paciente ou Agente?

Acredito, completamente, que sou um ser dotado de uma alma, que as aflições do corpo têm origem alhures, que as minhas maiores aquisições, as que realmente importam, são as que passam a fazer parte desse meu eu mais remoto. Nada a ver com o corpo, um fantástico instrumento, um veículo sem o qual esse eu remoto não poderia se manifestar, é verdade; mas, ainda assim, não deveria ser visto além do que é realmente, um veículo.

Os atletas participantes das Para-olimpíadas nos deram amostra disto. É a chama da vida que os sustenta que torna possível que realizem as façanhas que assistimos. E também os nossos atletas “normais”, fazendo do corpo o serviçal que ele, de fato, deve ser, obediente ao comando da vontade de quem o habita.

Daí, o meu inconformismo diante do ainda persistente tradicionalismo das ciências da saúde. Principalmente com uma realidade como é a nossa, onde o Sistema Único de Saúde não consegue cumprir o papel constitucional de prover assistência a todos os brasileiros. Não seria mais barato orientar as pessoas para os cuidados básicos de saúde? Não seria mais barato reconhecer a inteligência de cada um, falar à inteligência de cada um, atenciosamente? Mas, o que se vê, nas rotinas de atendimento? Um médico postado como se pudesse ter todas as respostas, como se pudesse ter a cura para todos os males, receitando, receitando e receitando. Ouvir? Não há tempo.

O paciente, na verdade não o é; mas é, de verdade, o agente da sua própria saúde. A palavra paciente deveria ser abolida do vocabulário médico. A educação, desde os primeiros anos de vida, deveria estar voltada para a conquista de uma maior autonomia das pessoas em relação à sua própria saúde. Principalmente considerando esses novos tempos de internet e google, que permitem a qualquer leigo decifrar os diagnósticos e as prescrições médicas mais misteriosas.

Desde que o “paciente” tenha sido mobilizado, pela educação, para se tornar um agente que use essas conquistas modernas com o melhor proveito... Desde que o “PC antipedagógico”, citado pela Giulia, não se constitua em obstáculo ao aprendizado, convertido em passatempo com “viagens” ao orkut, ao site da Barbie, sem orientação ao educando e sem treinamento ao professor ... Desde que se leve a educação a sério ...

Nenhum comentário: