quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Vendendo imagem no Orkut: um palco de disputas

Logo que me cadastrei no Orkut, estranhei o modo como as pessoas se exibiam com fotos e frases do tipo “esta é minha casa de praia, este é o meu carro... As mulheres, e também as garotas, costumam se identificar com adendos ao pré-nome, qualificando-se como lindinhas e etc. As vezes, postam fotos em poses sensuais; tudo de uma pobreza surpreendente, deprimente e que faz lembrar os anúncios em que as profissionais do sexo se ofereciam nos classificados dos jornais (e, agora, também na internet). As profissionais vendem seus serviços; é normal. Quanto as outras, e outros, por que vender uma “imagem”?

Meninos freqüentam a academia para exibir tanquinhos e bíceps; meninas, além da academia, quando podem aplicam silicone, fazem escova progressiva... Imitam o que de mais decadente há, no mundo dos adultos, imitam o que de mais decadente há, no mundo dos mais ricos, das celebridades. E, pela construção dessa imagem, se estapeiam, cada qual em busca de sustentar um ego malformado.

Tudo isto é de um ridículo atroz e, se não tem correção, quem sabe não seria pelo fato de, no fundo, os mais velhos estarem compartilhando dessa trágica comédia. Ou será que os pais não percebem a competição exacerbada em que seus filhos estão mergulhados? Os pais fomentam quando compram itens da moda para serem exibidos e quando não esclarecem que incitar a inveja do próximo, além de tolo, pode ser perigoso.

E, depois, os jovens é que são “culpados”, eles é que são rotulados como se já nascessem problemáticos...

Ainda hoje, lendo o “O Globo”, soube que em uma instituição que abriga menores infratores, em Maceió, a Justiça proibiu o uso de roupas de marca, aparelhos de som e consumo de cigarro. O motivo: bens pessoais geram disputas “...um quer ter o que o outro tem...”. Será que esse problema é exclusivo de abrigos para menores?

Nas brigas entre meninas, a motivação, na maioria das vezes, é um menino que olhou ou foi olhado pela “outra”, uma rival potencial ou suposta. Tudo isto, em tenra faixa etária, antes, ainda, dos 18 anos. Nas comunidades de escolas, mantidas por alunos, é freqüente a promoção de fóruns do tipo “quem é a mais ...”

Foi matéria de capa, no “Correio Braziliense” do último domingo, o uso do Orkut, por jovens, e as repercussões no âmbito escolar. Uma Diretora, segundo a matéria, teve a feliz iniciativa de também cadastrar um perfil para monitorar os alunos. Não gostou do que viu e convocou os pais para um encontro. Uma das mães, surpresa, afirmou que seu filho sequer sabia mexer na Internet (tem mãe que é cega).

É evidente que a ação isolada de uma diretoria, ainda que bem intencionada, não será suficiente. O lamentável é que, até o momento, não há noticias de ações articuladas do poder público para enfrentar a questão.

Investir nas escolas é indispensável, mas não o mero investimento financeiro. O fundamental é colocar a educação no centro das discussões, é identificar soluções novas para uma nova realidade que muito pouco lembra o que existia há menos de 20 anos.

Nenhum comentário: